Diante de sintomas não explicados, é comum a pessoa se sentir desconfortável, às vezes a família ou amigos que percebem, e é nesse momento que a pessoa procura ajuda. A pessoa se sente mais triste do que suporta, não consegue dormir, percebe os outros agindo de forma estranha ao seu redor, enfim, sintomas vagos que geram desconforto. A avaliação que um psiquiatra realiza deve ser uma mescla da avaliação psiquiátrica clássica do paciente, com um entendimento aprofundado do comprometimento global do sujeito na vida. Por isso, o psiquiatra deve ser flexível quando avalia sintomas emocionais, comportamentais e cognitivos dos pacientes e tentar identificar um modelo explicativo que esclareça para o paciente o que ele está vivendo. Este modelo pode ser resumido em algum transtorno conhecido, ou não ser algo psiquiátrico, mas apenas sofrimento que necessita de uma abordagem terapêutica não medicamentosa.
O transtorno psiquiátrico pode ter relação primária ou secundária à doença física. Como primária, pode-se considerar que os transtornos mentais não são relacionados com a doença física em si, mas sim anterior ou coexistente ao problema orgânico. Um exemplo é o paciente que tem diabetes e desenvolve quadro importante de ansiedade após sofrer um acidente de carro. Como secundário à doença orgânica, ou ao seu tratamento, os sintomas psiquiátricos se instalam em função da doença física. Um exemplo é o paciente com hipotireoidismo que apresenta sintomas depressivos importantes devido à alteração hormonal. Mesmo sendo o problema psiquiátrico decorrente de algo clínico, o paciente não pode deixar de tratar e precisa continuar tomando o remédio que lhe faz algum mal. Dessa forma, o tratamento psiquiátrico ajuda a se ultrapassar essa fase.
As demências são fenômenos neurodegenerativos e o início dessa síndrome costuma ser insidioso, com manifestações clínicas que evoluem ao longo de um período de anos. Existem variações desta manifestação, mas são menos frequentes. A dificuldade de reter informações recentemente adquiridas é tipicamente o sintoma inicial; com a progressão da doença, pode ocorrer o comprometimento de outras áreas da cognição (linguagem, raciocínio, função executiva) em diversos graus e geralmente coincidem com dificuldades nas atividades da vida diária. Os sintomas comportamentais podem ocorrer nas diversas fases da doença e são muito frequentes – depressão, ansiedade, apatia e irritabilidade são mais comuns no estágio inicial da doença; alucinações, delírios e desinibição predominam nas fases moderada e avançada da doença. O tratamento psiquiátrico é fundamental para ajudar a preservar o paciente e para amenizar os problemas de convivência com ele, diante das mudanças que sofre.
Ansiedade pode ser uma reação normal do indivíduo (estado de medo ou sentimento subjetivo de apreensão e angústia, manifestada por várias alterações autonômicas, que são reações defensivas, mas sempre suportável e passageira), pode ser um sintoma de doença física (por exemplo, na crise asmática), sintoma de doença mental (por exemplo, em quadros depressivos com agitação), ou a própria doença mental (ansiedade generalizada, síndrome do pânico, etc.). Como doença, a ansiedade é definida como estados emocionais repetitivos ou persistentes nos quais a ansiedade patológica desempenha um papel fundamental. Caracteriza-se pela presença de sintomas psíquicos (constante estado de alerta e medo exagerado) e de sintomas físicos (falta de ar, formigamento, náusea, palpitação, tremores, tontura, etc). Alguns pacientes manifestam mais os sintomas físicos e outros mais os psíquicos, e alguns ambos, mas sempre comprometendo a qualidade de vida do paciente.
A denominação “somatoforme“ decorre da dualidade corpo-mente, e tem sido extensivamente redescutida. Tem sido proposta a denominação de transtorno com sintomas físicos inexplicados, definido como transtornos que inclui sintomas físicos (exemplo: náusea, dor, tontura) e que não possui explicação médica adequada, com vários subtipos de diagnósticos. As queixas e sintomas somáticos são suficientemente graves para limitarem os pacientes do ponto de vista emocional, funcional ou social. As chamadas doenças funcionais (síndrome do cólon irritável, doença de Chron, síndrome de fadiga crônica, fibromialgia, etc) podem ser classificadas aqui. O diagnóstico somente é percebido se a avaliação clínica incluir a percepção de aspectos psicológicos no adoecer, que muito contribuíram para a instalação, gravidade e manutenção do quadro. Tradicionalmente os diagnósticos são baseados na exclusão de doença física, o que não valoriza a presença de angústia e preocupação intensa do paciente, nem o caráter difuso e polissintomático das queixas. Sem dúvida, um dos diagnósticos mais desafiadores e difíceis de se manejar.
A síndrome depressiva tem várias facetas. Geralmente a tristeza, o desinteresse e a falta de esperança no futuro estão presentes, mas em alguns quadros são sintomas físicos inespecíficos que se destacam como expressão da tristeza patológica. O termo “patológica” é importante, porque em geral se associa o sentimento de tristeza a uma causa plausível, mas na depressão a tristeza é desproporcional a qualquer causa, e existe também sem causa identificável. A depressão ainda pode estar dentro de um transtorno mais complexo, como as doenças afetivas. Neste caso, a pessoa vive momentos de altos e baixos, sendo a euforia e os delírios de grandeza o contraponto da depressão. A depressão pode aparecer como sintoma inicial de algumas doenças físicas e pode cursar com sintomas somáticos (perda de interesse nas atividades rotineiras ou insônia) e psicóticos (delírios, principalmente de ruína). O pensamento e comportamento suicida são sempre preocupantes nestes quadros, assim como sintomas de impulsividade prejudicam o dia-a-dia do paciente.
Agende sua consulta agora mesmo!
De uma forma geral, a saúde mental da mulher está muito relacionada com o padrão hormonal em que ela se encontra, desde a menarca até a menopausa. Mas o período de gestação é com certeza uma fase de desafio importante, no qual a mulher muda seu papel na vida e precisa reequilibrar seus afazeres diante de uma nova condição. Por esse conjunto de fatores, quadros psiquiátricos podem se instalar neste período, e o manejo destes quadros requer muito cuidado devido a saúde não apenas da gestante, mas também do bebê em gestação. Atualmente temos um bom conjunto de medicações estudadas que sabemos podem ser usados na gestação e no período de lactação. As decisões terapêuticas devem ser compartilhadas com a paciente, para que haja um maior engajamento terapêutico, ajudando a paciente a se adaptar para as mudanças.
O TOC é um transtorno do espectro da ansiedade, e tem como principal característica a presença de crises recorrentes de obsessões (pensamentos intrusivos recorrentes) e compulsões (rituais de ações que tentam acabar com os pensamentos perturbadores). O tipo mais comum de TOC se relaciona com questões de higiene e de se achar adoecido, mas o TOC pode se expressar de várias formas. Entre os quadros psiquiátricos é, sem dúvidas, um dos mais difíceis de se tratar, exigindo muita paciência e em geral muita dedicação do paciente para mudar um padrão mental que o perturba. É muito importante diferenciar o TOC de outros quadros que apresentam semelhança de sintomas, como a hipocondria, o dismorfismo corporal, etc. O tratamento envolve medicamentos de várias classes e em casos extremos, neurocirurgia. Mas a psicoterapia é fundamental neste tipo de tratamento, de forma associada.
A síndrome e burnout pode ser entendida como uma doença funcional decorrente do estresse crônico devido ao manejo constante com pessoas em situações intensas, por isso tão comum em profissionais de saúde, jornalistas, advogados, bombeiros, policiais e executivos.
A tríade exaustão emocional + despersonalização + desinteresse profissional marcam o desenvolvimento dos sintomas, e se não abordada pode gerar abandono da profissão em um momento de impulso, destruindo toda a construção de uma vida.
O tratamento inclui o manejo dos sintomas depressivos e ansiosos, que podem estar associados, com medicações e/ou psicoterapia, e sobretudo com a reconstrução da tarefa profissional de forma mais adequada.
A alma humana é vítima tão inevitável da dor que sofre a dor da surpresa dolorosa, mesmo com o que devia esperar.
(Bernardo Soares/Fernando Pessoa, em Livro do Desassossego)